… e suas possíveis respostas, para todos os gostos. :-)
1. Você vai parir em casa… mas vai ser parto normal??? resposta polida-cara-de-alface: sim. mas me diz, você acha que vai virar o tempo no final de semana? resposta baseada em evidências: sim, porque cesárea só em um centro cirúrgico dentro de um hospital, né? resposta voadora-no-peito: bom, a princípio sim. mas se tiver que ser cesárea, já tô preparada: liguei ontem mesmo pra polishop e já reservei meu conjunto de facas guinsu! 2. Antigamente as mulheres só tinham filhos em casa, por isso que morriam tantos bebês!! resposta polida-cara-de-alface: ah, mas se tiver qualquer risco, a gente corre pro hospital! e a joanete da sua avó, tá firme e forte ainda? resposta baseada em evidências: veja bem, parto em casa planejado é diferente de parto em casa por falta de opção. parto em casa planejado tem acompanhamento pré-natal por profissional qualificado, o profissional está preparado para avaliar riscos e determinar uma transferência para o hospital se necessário, e só gestante de baixo risco pode parir em casa. resposta voadora-no-peito: tem galho não! filho é que nem biscoito, vai um e vem dezoito… qualquer coisa eu faço outro rapidinho! 3. Mas você vai parir como, de cócoras? Pelamordedeus, isso é coisa de índia!! resposta polida-cara-de-alface: ah, não sei, na hora eu decido. mas menina, e aí, o que você acha, vai ter copa ou não vai ter copa?? resposta baseada em evidências: olha, as posições mais verticalizadas são comprovadamente melhores para parir, porque o corpo conta com a ajuda da gravidade para expulsar o bebê. e para parir de cócoras não precisa de um super preparo físico não, você pode parir de cócoras sustentada, por uma pessoa atrás de você, ou sentada na banqueta de cócoras. quer ver uma foto? resposta voadora-no-peito: pois é, mas eu tenho sangue indígena, sabia? aliás, a minha tataravó era de uma tribo canibal, e os primeiros a serem devorados eram sempre aqueles que diziam as maiores bobagens. você lá estaria correndo um risco danado, sabia? 4. Mas você quer parir onde, na banheira? Eu ouvi dizer que é perigoso pro bebê nascer na água, ele pode até se afogar! resposta polida-cara-de-alface: jura? nossa, vou pesquisar sobre isso. aliás, falando em se afogar, menina, e as enchentes lá no norte, hein? resposta baseada em evidências: você sabe como é o ambiente onde o bebê passa nove meses dentro da barriga? pois é, é um meio líquido, por isso o nascimento na água é uma experiência mais tranquila e menos traumática. o parto na água é totalmente seguro para a mãe e o bebê, além do fato que a água quente alivia a dor e diminui a necessidade de analgesia. resposta voadora-no-peito: você nunca ouviu aquele ditado que diz que “quando a água bate na bunda, nego aprende a nadar”? pois é, eu sou muito radical com essas coisas, quero que ele aprenda a se virar desde cedo, independência é tudo nos dias de hoje, menina! 5. Parir em casa?? Nossa, mas o seu marido deixa?? resposta polida-cara-de-alface: deixa, deixa sim. decidimos juntos, na verdade. aliás lembrei que preciso ligar pra ele, a gente se fala todo dia nesse horário… dá uma licencinha? resposta baseada em evidências: bom, ele não tem que deixar nada, né? o parto é da mulher, o protagonismo feminino é condição sine qua non para um parto ativo. mas é claro que é super bacana e faz toda diferença contar com o apoio do parceiro, por isso a gente conversou muito, ele leu uma porção de coisas, teve acesso a todo tipo de informação de qualidade e evidências científicas, e hoje virou um super ativista da humanização do nascimento e defensor ferrenho do parto domiciliar! resposta voadora-no-peito: marido?? pra quê marido, fia?? usei como doador de esperma só, depois chutei longe!! mas me diz uma coisa… e o seu marido, deixa você usar esse corte de cabelo, é?? 6. Mas parto em casa, numa cidade como São Paulo? E se você precisar ir para o hospital, como faz com o trânsito? resposta polida cara-de-alface: puxa, vou conversar com o meu cuidador sobre isso… mas por falar em trânsito, e a greve dos metroviários, hein? resposta baseada em evidências: caso seja necessária a transferência para um hospital – o que acontece em uma parcela muito pequena dos partos domiciliares planejados -, a equipe leva em consideração todas as possibilidades, inclusive os horários de maior trânsito e a distância entre a casa e o hospital. resposta voadora-no-peito: o trânsito não é nada, pior é ter que torcer pra não nascer num dia de rodízio! mas ó, querida, eu sou chique! já reservei o helicóptero, se precisar de transferência, vou toda linda lá no céu enquanto o povaréu se debate no trânsito, fica tranquila!! 7. Mas e se você estiver em casa e não aguentar a dor, como faz?? resposta-polida-cara-de-alface: não sei, melhor deixar pra pensar nisso na hora, né? mas menina, e aquele bolo que você postou no face outro dia, me passa a receita? fiquei com água na boca, e você sabe, grávida não pode passar vontade… resposta baseada em evidências: bom, há alternativas não farmacológicas para o alívio da dor, né? você sabia que a presença de uma doula diminui muito os pedidos por anestesia? tem banho de chuveiro, massagem, banheira, tudo isso dá pra fazer em casa e ajuda a aliviar a dor. além do mais, só o fato de estar em um ambiente onde a mulher se sente segura, acompanhada de pessoas em quem ela confia, ao invés do ambiente inóspito e impessoal de um hospital, já colabora para que a mulher suporte a dor com mais facilidade. você já ouviu falar do círculo vicioso medo-tensão-dor? resposta voadora-no-peito: olha, querida, se eu estou aqui aguentando esse seu papinho-aranha, pode ter certeza que eu encaro a dor de um TP com o pé nas costas. sério, nada pode ser mais doloroso do que isso! * acreditem ou não, TODAS as falas são reais, e foram ouvidas por mim em uma das duas gravidezes, quando eu dizia que ia parir em casa. já a minha resposta de escolha para cada uma delas, essa eu não entrego qual foi, sob pena de acabar com a minha fama de boa moça (se é que eu ainda tenho alguma). Evidencias sobre o parto em casa: http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/estudando-parto-domiciliar.html?q=parto+domiciliar Retirado de: http://umavezmamifera.wordpress.com/2014/06/06/7-coisas-estupidas-para-nao-dizer-a-mulher-que-vai-parir-em-casa/ Foto: Divulgação Por Ana Cristina Duarte, obstetriz
"Alguns pensamentos sobre partos pélvicos, para quem está na difícil tarefa de ter que escolher o que fazer. Estou aqui levando em consideração uma gestação acima de 36 semanas, pois antes disso os bebês viram. Não se preocupe com diagnóstico de bebê sentado antes das 36 semanas. Houve um tempo, até uns 50 anos atrás, que parto pélvico era um tipo de parto. Simples assim. Os médicos sabiam o que fazer, as parteiras também sabiam, e pronto. As nossas bisavós tiveram ou tinham uma irmã ou prima que teve parto pélvico, sem maiores questões. A gente ouve de algumas pessoas mais velhas: "eu nasci de bunda". Até que surgiu a cesárea, cada vez mais segura, cada vez mais comum. Nos cursos de medicina os médicos foram perdendo contato com o pélvico e na ausência do professor, operavam. Muitos cursos de medicina pararam de ensinar parto pélvico. Hoje em dia a imensa maioria dos obstetras sai da especialização sem nunca ter atendido um parto pélvico que não fosse um desses raros que chegam escorregando, gestante que já teve muitos partos, mal dá tempo de levar para o centro obstétrico. Em 2000 uma pesquisadora canadense publicou um artigo enorme concluindo que o parto pélvico tinha mais risco para o bebê do que a cesárea. Menos risco para a mãe, mais risco para o bebê. Esse artigo destruiu de vez as chances de um médico aprender a fazer parto pélvico e as mulheres de terem esse direito. Cinco anos depois, já tinham saído mais dois artigos, um provando que o anterior foi mal feito e não tinha o valor acadêmico que lhe foi atribuído e outro acompanhando essas mesmas crianças que nasceram no trabalho anterior e mostrando que a médio prazo a via de parto não fazia diferença para as crianças. Mas que a médio prazo continuava sendo pior para as mulheres a cesariana. Agora já estão em andamento trabalhos nos EUA, Alemanha, Israel, França e Austrália mostrando que o parto pélvico é tão seguro quanto a cesárea, respeitadas algumas condições (bebê de termo, com menos que 4kg). Qual é a questão no Brasil? A questão principal é a do risco profissional. Para os que não sabem fazer parto pélvico, vem o pavor de acontecer alguma coisa. Para os que sabem, o problema é o risco jurídico. Diante da cultura da cesariana no Brasil, qualquer coisa que aconteça num parto pélvico, mesmo que seja algo nada a ver com o parto, algo que a criança já tinha, até um problema congênito, por exemplo, o médico vai ser acusado de ter causado aquele dano. Às vezes não é nem o paciente que move processo, mas sim outros médicos. Num parto pélvico recente que acompanhei num hospital, o bebê nasceu e foi atendido por um pediatra da casa (não deu tempo de chamar um dos nossos). O pediatra enlouqueceu por terem deixado o bebê pélvico nascer de parto normal e disse pro obstetra e para os pais que tinham fraturado as duas pernas do bebê no parto. O bebê não teve fratura alguma, raio X veio perfeito, o médico não se conformou, mandou fazer de novo o raio X, que veio perfeito novamente, e só assim ele parou de infernizar a pobre mãe e o pobre obstetra. E tem muito médico por aí que acha um absurdo parto normal ou natural em qualquer posição, quanto mais um parto pélvico. Que loucura, que perigo! Até mesmo em partos normais a gente vê isso. Qualquer problema que o bebê tenha, se nasceu de parto normal, a culpa foi do parto. Paradoxalmente são os bebês nascidos de cesariana que têm mais problemas. Mas ninguém se preocupa com esses, nesse caso o bebê tinha um probleminha. Mesmo que seja um pulmão molhado com 10 dias de UTI. Não são só médicos que estão tão mal-educados quanto à questão do nascimento. Toda a sociedade está. Muitos maridos, famílias, amigas, enchendo a cabeça das mulheres que terão ou que tiveram um parto pélvico normal. Atender, dentro desse cenário, um parto pélvico, é um serviço para heróis. O risco que esses médicos e parteiras correm não é do parto. É o da sociedade em que vivemos. É o papel de cada uma de nós aqui, como mães, profissionais e educadoras (toda mãe é uma educadora), mostrar para a sociedade, em palavras meigas e sutis, que as pessoas enlouqueceram! Que as pessoas não estão entendendo a questão do nascimento. Ninguém pensa nos riscos que uma mulher corre a longo prazo após uma ou mais cesarianas. Ninguém quer saber das placentas acretas, prévias, rupturas, infertilidade. Ninguém cumprimenta uma mulher que teve um parto pélvico. As pessoas a chamam de louca, ou seu enfemismo mais gentil: "corajosas". E cabe a cada uma de nós ajudar a mudar esse cenário. Deixo aqui meu abraço a cada mãe que teve a coragem de ter um parto pélvico e um abraço ainda mais forte em cada mãe que não conseguiu vencer essa gigantesca onda contrária, quase tsunâmica. E um abraço ainda mais forte e profunda solidariedade a quem quis tentar, mas teve seu direito negado. Todos vocês são absolutamente dignas de toda a nossa admiração. Um abraço longo e demorado a cada profissional de saúde que tem a coragem de permtir a uma mulher parir um bebê que resolveu vir com o bumbum primeiro." --- * Artigo de 2000 que destruiu a arte do parto pélvico em todo o planeta (Como dizem os estudiosos do parto pélvico, Valeu Hannah, você foi responsável por mais cesarianas no mundo do que qualquer médico cesarista que já existiu): http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(00)02840-3/abstract * Artigo feito 5 anos após criticando o de 2000 (valeu, pessoal!) http://www.ajog.org/article/S0002-9378(05)01362-1/abstract * Analisando as crianças 2 anos após o parto e mostrando que no final não havia diferença: http://europepmc.org/abstract/MED/15467555 * Revisão sobre Versão Cefálica Externa (manobra para virar o bebê ainda dentro da barriga, possibilitando um parto cefálico) http://www.mednet.cl/link.cgi/Medwave/Revisiones/RevisionClinica/3698 * Artigo com uma compilação das evidências científicas sobre parto pélvico e as alternativas: http://www.breechbirth.net/the-evidence-on-breech-birth.html * Alguns vídeos que eu gosto sobre parto pélvico: https://www.facebook.com/notes/ana-cristina-duarte/v%C3%ADdeos-de-parto-p%C3%A9lvico/422748141107370 O parto na água é uma das mais suaves formas de parto para a mulher e para a criança. As próprias mulheres conduziram as obstetrizes e os médicos a esse método, não apenas utilizando seu relaxamento na fase de dilatação, mas também na de expulsão do bebê. A partir desse tímido início, desenvolveram-se duas correntes: de um lado, aquela que tem como objetivo principal a diminuição da dor na mulher e, de outro lado, aquela que objetiva, sobretudo, a diminuição do estresse na criança.
O mergulho na água em temperatura corporal pode ter, de fato, um efeito totalmente incrível. Durante as contrações da fase da dilatação, a água morna diminui a dor e relaxa, pois a musculatura do canal do parto torna-se muito mais elástica. O ciclo vicioso "dor-medo-tensão-dor" nem se inicia. A própria mulher libera analgésicos (endorfinas), com que inibe as catecolaminas, substâncias mensageiras do estresse, como a adrenalina. Não se desenvolve uma respiração de estresse, que consumiria mais oxigênio durante as contrações, mantendo estável o aporte de Oxigênio para a mulher e feto. Discute-se até a mãe não necessitaria de menos oxigênio quando ela sente as contrações dentro da água. Deste modo poderia a mãe dentro da água disponibilizar mais oxigênio para o bebê, uma vez que ela consome menos. A análise do sangue do cordão umbilical de bebês nascidos na água confirma na maioria das vezes, uma alta vitalidade dessas crianças, que foi documentada entre outros sinais, pelo elevado tônus muscular, pelo movimento ativo e pela coloração da pele. Fonte: Cornelia Enning - O Parto na Água: um guia para pais e parteiros. |
Quem escreve?
Silvana: Doula, Pedagoga e mãe em potencial. Do que falamos aqui?
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